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terça-feira, 11 de dezembro de 2007

?

- O que é amar?
- Huuum...Não sei.
- Como não sabe?
- Deveria haver resposta?

Xero

O cheiro da flor que sinto em seus cabelos
O cheiro que guardo em mim do teu suor
É o cheiro que em ruas perdidas buscava encontrar em mim o melhor.

É o cheiro maluco que ensina
Que o desejo se sente no ar
É o tumulto da mais bela idéia
É o desejo eterno de amar.

Meu corpo é folha balançando ao vento
Vento soprado de Orfeu, após copular
Instinto vadio, carne tão quente.

É o desabrochar da primavera em mim
De todos os cantos, de todas as línguas
Quero a sua.

Cheiro provocado, provocativo
Prevaricado, preparado para conquistar
Preparado para realizar
Preparado para arrasar.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Devaneios

Foram três taças de um bom vinho a luz de vela, o sono não vinha naquela noite, mas o vinho e o livro de contos me fizeram boa compania. Deu-se alta hora da madrugada quando um desmaio profundo se abateu sobre meu corpo, foi então que me vi num campo, era verde claro e o sol muito forte, olhei para a esquerda e assustei-me com o coelho grande, sorridente e de cartola que ao meu lado olhava-me como um bobo. Foi intrigante.
"Que raios esse coelho e de cartola, faz ao meu lado?"
Num súbito ele correu para trás, parou! Olhou pra mim e voltou a correr em direção às árvores grandes que eu via ao fundo.
Adentrei naquele emaranhado de galhos, eram estranhos, escuros, davam medo, lembrei de vovó, elasempre dizia: "Ai! Que me arrepia a espinha".
Nossa! Acabou...Foi um caminho difícil, mas até que me pareceu ser curto, mas que estranho! Onde foi parar o verde campo?
O cenário agora era outro, um grande salão com um piso engraçado, era azul marinho com bolinhas amarelas, em volta tudo preto e bem no centro uma lâmpada, vi o coelho saltitando ao fundo, fui atrás, mas o que encontrava no caminho eram coisas absurdas que para aquele lugar pareciam naturais, assim como arbustos em nossos jardins. Deparei-me com um submarino amarelo à minha direita, à esquerda, fadas pequeninas brincavam em torno de uma garrafa de rum, mais a frente uma árvore com maçãs bem vermelhas e suculentas, mas uma adorável borboleta branca desfaleceu aotocar aquele vermelho vivo e tentador.
Cheguei! Acho que deve ser aqui, uma porta, ela é torta, e rosa, vou entrar.
Passei do batente e o que vejo é uma grande valise no centro, cheguei na sua frente e descobri que não abria, mais uma vez olhei para a esquerda elá estava o bobo coelho com uma chave na mão, eu peguei e abri a valise e o que vejo...
Mas que barulho chato! Odeio o pipipi do despertador e ele teima em chegar bem na melhor hora do sono, melhor tomar um banho, vinho sempre me deixa um pouco zonza.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Cai

Cai.
Cai a ilusão de amor em vida.
Cai a ponte dantes erguida,
No prenúncio de sonhar.

Cai.
Cai a idéia,
Como uma folha já velha
Repousa para talvez não acordar.

Cai.
Cai de novo
A voz do povo
Que insiste em fazer-lhe acreditar.

Cai.
Cai sempre o mesmo ardor
Do fogo que antecede a dor
A dor de não poder amar.

E cai porque levanta,
levanta porque há esperança,
A esperança de um dia respirar.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Crônica do papelzinho

São seis horas da manhã, o relógio badala, o sol ressurge e a cidade desperta, logo o silêncio das ruas é dominado pelo tilintar dos saltos femininos e as buzinas impacientes do trânsito, aos poucos o vazio das calçadas é preenchido e o som de cidade grande toma conta daquela que parecia uma cidade deserta... Deserta da noite.

No meio dessa multidão, uma pessoa denominada como “cidadão” age de uma maneira simples e comum, de mãos dadas com a gravidade deixa cair no chão um papel de bala.

O papelzinho colorido dança no meio de pernas e concreto, concreto e pernas, ele passeia gracioso pela calçada, trilhando um rumo desconhecido. E ele vai bonito, girando e contorcendo-se em formas magníficas ao brilho do sol.

É mais do que um papelzinho, é uma poesia que de repente é interrompida por um poste.

O papel agora colado na barra de concreto é surpreendido por um jato d’água da mangueira do padeiro que lava a frente d padaria como num filme de Fred Astaire, jogando água para todos os cantos, bailando em meio a enxurrada na calçada há muito limpa.

O papelzinho escorrendo no poste junto à água vai com ela numa longa jornada pelo esgoto.

O papel é bravo, corajoso, nada com a corrente forte como um peixe, ultrapassando os obstáculos que aparecem em seu caminho, derrotando as fezes que querem impedi-lo de prosseguir com glória.

Mas o caminho foi longo e tortuoso, já está muito amassado, com fissuras, apesar de seu plástico resistente, seu brilho de verniz já não é mais o mesmo de antes, o papel está fraco e em seus últimos suspiros lembra-se de quando era envolto em uma bala doce e cheirosa, morando num bolso quentinho e aconchegante. Neste momento o papel, que já não tem forças para esquivar-se, dá de encontro com uma barra de ferro. Ali é seu fim, ali é o cemitério de papeizinhos de todas as espécies, de todos os cantos. É lá que repousam milhares de papéis por dia, que numa corrente espiritual viram uma grande barragem para quando a grande corrente d’água num dia chuvoso chegar, ela não passará. Pois levará alguns deles para a superfície junto com outros seres de plástico e visitarão outros lugares pela cidade, outros permanecerão por mais tempo naquele espaço abaixo dos pés de seus ex-portadores.

E o mais bonito é que o espírito daquele e de tantos outros papeizinhos acompanham seus corpos até a decomposição final, dando auxílio para que passem por todos os cantos possíveis que não conheceram em vida; alguns permanecem na terra por 50 anos, outros por 100 e outros até por 875, até que finalmente possam descansar em paz no céu das embalagens.

domingo, 11 de novembro de 2007

A moça da saia azul

Era dia de São João e naquela terra a tradição se perpetuava no tempo, bandeirolas coloridas, fitas nos mastros, imagens de santo e muita comida, esse era o dia mais feliz do ano naquela vila.
Dentre todos os convivas da tradição uma moça se destacava, dançava ao lado da fogueira, vestida com uma blusa de renda e uma saia de chita azul, cabelos soltos e encaracolados, neles uma fita branca de cetim, seu balançar era fino, delicado e seus pés nas pontas impulsionavam seu corpo no ritmo da música e sua harmonia se confundia com o balançar do fogo e das bandeirolas.
Por um instante sua imagem pareceu o vento, mas seu sorriso doce nos lembrava de que era humana ou talvez anjo, caído na terra com toda sua graça e leveza de flor.
E o rodopiar bonito de sua saia contagiava a todos e num instante estavam brincando de rodar e a visão agora era não só de uma nuvem azul, e sim de um colorido campo de flores ao vento. Mas sua força vinha daquela saia, daquele corpo em harmonia que só fazia contagiar de alegria aquela fuzarca.
O fim da festa é o fim de um momento, não de um sentimento que se instala no peito naquele movimento do levar do momento que fica eterno ao longo do teu caminhar, seja ele o quanto durar.

A pomba

Havia um homem sentado num banco de praça, umadessaspraças grandes de bairro calmo e árvores grandes, seu olhar era fixo e penetrante para uma pomba morta ao lado de uma antiga árvore.
Quem era? O que pensava o homem?
Ele me parecia triste, perdido em seu próprio eu, mal piscava e só havia em seus olhos a imagem daquele ser que já não era mais nada a não ser defunto.
Me permiti ser ousada e entrar sem licença naquela mente perdida, era um homem solitário, passeava naquela praça todas as quartas e toda semana encontrava nla um motivo para refletir.
Hoje, ele pensava na morte e por consequência na vida. Lembrava de seus pais e parentes velhos, todos já mortos, lembrava detodos osvelórios que havia visitado, todas as perdas que havia sofrido e se deu conta que convivia muitomais com ela do que com a própria vida, afinal o que era a vida se não um caminhar paulatino para ela.
Como ele encararia sua própria morte?
Em algumas culturas a morte é vista de forma tão natural que chega a ser celebrada, já em outras é tida como mórbidamente cruel. O fato é que alguns são desprendidos da matéria, já outros precisam muito tocá-la.
Ele sofreu poralgumas perdas, nem ligou para outras, mas se deu conta de quê o medo erado desconhecido, a idéia de acabar tudo ali, depois deuma vida cheia de trabalho, de produções boas e ruins, chegava a ser infâme, passou a pensar então, que teria sua recompensa após sua desmaterialização. Quem garante? Começou a ficar confuso, percebia isso de acordo com suas expressões.
Ao descruzar a perna e cruzando a próxima, percebi que dava sequência a seus pensamentos. Deve estar se perguntando agora: "por que estou pensando nisso?", mas começou a indagar consigo mesmo o que a morte representava para o homem.
Se perguntava:
"por que morremos?"
"pra onde vamos?"
"qual a sensação da morte?"
"será que vemosuma luz? Ou apenas a escuridão do fechar dos olhos?"
"será que é tudo ilusão?"
Foram quatro horas, quatro longashoras de reflexão, quando percebi que algo mudava naquela expressão, que passava de duvidosa para satisfeita... Acho que ele encontrou a sua resposta.
O fato é que eu não sei se estes foram mesmo os pensamentos daquele homem, mas tenho certeza que li em seus lábios a seguinte frase, pouco antes dele se levantar e a dizia com uma certa satisfação:
"a morte é apenas a renovação da espécie."
Aquele homem não era um ser vaziosó porestar ali com seus pensamentos, talvez eu o seja ou não por da minha janela estar imaginando o pensamento de outro, o fato é que nossas existências ali, naquele momento produziram pensamentos e respostas, pode ser, pois respostas sugerem algo verdadeiro e a verdade por sua vez cabe as vontades e crenças de cada um.