Havia um homem sentado num banco de praça, umadessaspraças grandes de bairro calmo e árvores grandes, seu olhar era fixo e penetrante para uma pomba morta ao lado de uma antiga árvore.
Quem era? O que pensava o homem?
Ele me parecia triste, perdido em seu próprio eu, mal piscava e só havia em seus olhos a imagem daquele ser que já não era mais nada a não ser defunto.
Me permiti ser ousada e entrar sem licença naquela mente perdida, era um homem solitário, passeava naquela praça todas as quartas e toda semana encontrava nla um motivo para refletir.
Hoje, ele pensava na morte e por consequência na vida. Lembrava de seus pais e parentes velhos, todos já mortos, lembrava detodos osvelórios que havia visitado, todas as perdas que havia sofrido e se deu conta que convivia muitomais com ela do que com a própria vida, afinal o que era a vida se não um caminhar paulatino para ela.
Como ele encararia sua própria morte?
Em algumas culturas a morte é vista de forma tão natural que chega a ser celebrada, já em outras é tida como mórbidamente cruel. O fato é que alguns são desprendidos da matéria, já outros precisam muito tocá-la.
Ele sofreu poralgumas perdas, nem ligou para outras, mas se deu conta de quê o medo erado desconhecido, a idéia de acabar tudo ali, depois deuma vida cheia de trabalho, de produções boas e ruins, chegava a ser infâme, passou a pensar então, que teria sua recompensa após sua desmaterialização. Quem garante? Começou a ficar confuso, percebia isso de acordo com suas expressões.
Ao descruzar a perna e cruzando a próxima, percebi que dava sequência a seus pensamentos. Deve estar se perguntando agora: "por que estou pensando nisso?", mas começou a indagar consigo mesmo o que a morte representava para o homem.
Se perguntava:
"por que morremos?"
"pra onde vamos?"
"qual a sensação da morte?"
"será que vemosuma luz? Ou apenas a escuridão do fechar dos olhos?"
"será que é tudo ilusão?"
Foram quatro horas, quatro longashoras de reflexão, quando percebi que algo mudava naquela expressão, que passava de duvidosa para satisfeita... Acho que ele encontrou a sua resposta.
O fato é que eu não sei se estes foram mesmo os pensamentos daquele homem, mas tenho certeza que li em seus lábios a seguinte frase, pouco antes dele se levantar e a dizia com uma certa satisfação:
"a morte é apenas a renovação da espécie."
Aquele homem não era um ser vaziosó porestar ali com seus pensamentos, talvez eu o seja ou não por da minha janela estar imaginando o pensamento de outro, o fato é que nossas existências ali, naquele momento produziram pensamentos e respostas, pode ser, pois respostas sugerem algo verdadeiro e a verdade por sua vez cabe as vontades e crenças de cada um.
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