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quinta-feira, 17 de abril de 2008

Legado

Não há legado para se deixar no mundo,
Pelo menos nenhum que venha de meu ventre,
Ou pelo menos das minhas contas.

Na verdade me engano, deixo muitos
Estão em forma abstrata,
Alguns em forma de palavra,
Outros em forma de nada, estão apenas no ar.

Os que têm forma de segredo levo comigo,
Esses guardo há vinte chaves,
Levo também a dor que ruminei em vida,
É um chicletinho bem ruim, como aqueles
de sabor tuti-fruti de quitanda barata.

Pensando bem, não serão tantos assim,
Levarei mais coisas do que deixarei,
Mas com certeza um dos meus legados favoritos são as denúncias,
De tudo que tive vontade de denunciar,
principalmente em relação à vida, é isso,
Denuncio a vida, ou melhor, os infelizes que a tornam má,
ou pelo menos como eles a tornam má.

Legado, rezo para que eles sejam lembrados, utilizados,
Porque se morrerem comigo,
Morrerei em vão.

Não quero rochas, nem placas pra me nomearem no final
Quero palavras, folhas,
Quero principalmente citações e ações.
Pois é essa a riqueza de meu legado.