Nesses últimos dias algumas notícias me chamaram a atenção, a primeira é sobre a discussão em relação à censura sobre a comédia, discussão aberta pelo grande jornalista Serginho Groissman, intitulada de "O humor deve ter limites? Ou os limites caracterizam a censura?". Hoje pela manhã vi uma manchete no site UOL noticiando que 50% dos estudantes brasileiros têm deixado a faculdade. A terceira claro, é sobre a polêmica seleção do Dunga. O que essas três coisas têm em comum?
Curiosamente ou não, pela manhã essas três diversas informações se cruzaram em minha cabeça e me levaram a refletir sobre os assuntos.
Eu sempre defendi que o ensino superior é muito importante e essencial desde que o aluno tenha pleno interesse em seu conteúdo e base escolar e cultural para poder se desenvolver em determinada profissão com louvor.
Aí é que está. Eis para mim a base de tudo.
Confesso que já fui e ainda sou muito criticada por esse pensamento, mas entendam que essa visão se traduz no seguinte, não podemos negar que a educação no Brasil ainda é muito falha, nunca vou me esquecer dos meus antigos alunos da turma de artes numa ong da periferia de São Paulo, crianças e adolescentes de 8 a 16 anos com dificuldades absurdas para escrever e para ler, conhecimento zero sobre artes, política e cidadania. Daí eu me pergunto, por quê?
Ao mesmo tempo que estive presente nessa realidade, conheci muitos alunos de escolas particulares e situação social mais elevada que podiam até saber ler e escrever (ainda com muitos erros de português), mas também não tinham conhecimento sobre artes, sobre política, etc.
Todas essas constatações me levaram a concluir que de fato, repito, temos uma educação pública lastimável e um desinteresse mais lastimável ainda por parte da população em qualquer conhecimento necessário.
Existem muitas bibliotecas públicas que guardam obras belíssimas e valiosas da literatura; museus com entrada gratuita pelo menos num dia da semana; casas de cultura oferecendo oficinas gratuitas de diversas linhas; cursos gratuitos profissionalizantes; palestras sobre diversos assuntos acontecendo em toda parte em faculdades e instituições e até mesmo em igrejas; bibliotecas móveis; espetáculos de dança, teatro, circo, música, acontecendo gratuitamente em todos os pontos da cidade; mas ainda sim o público de tudo isso é pequeno. Há pessoas que nem sequer param pra pensar se alguma coisa desse tipo existe. E é por isso que digo com toda certeza:
falta interesse do público e falta divulgação e incentivo do governo.Mas o mercado de trabalho é exigente, exige um diploma. Lá vão milhares de estudantes sem base cultural, sem base em conhecimentos gerais fazer faculdade e se formam sem louvor, se transformando em profissionais medianos, ou será que teremos também que negar que o mercado de trabalho não está cheio de profissionais medianos e ineficientes? Ou será que só eu escuto tantas reclamações de tantas pessoas?
Existe uma grande confusão de valores no Brasil, a partir do momento em que se valoriza um pedaço de papel no lugar do conhecimento e do valor humano, acho que precisamos parar e pensar!
E aí vem o comediante fazer o seu papel de divertir as pessoas e apontar o que ele vê, e como artista que é, ele certamente vê muita coisa errada, certamente faz uma série de piadas sobre política e sobre comportamento humano e certamente muita gente não entende, muita gente critica, muita gente censura, porque certamente não teve base pra poder entender uma piada e talvez até seja infeliz em sua vida profissional, porque se formou numa faculdade pra arrumar um emprego, quando ele devia ter se formado numa faculdade para seguir uma profissão. Talvez por isso tanto mal humor ou falta de compreensão dele.
E depois do público, senhoras e senhores, porque não a censura do próprio governo que bem quietinho e comendo pelas beiradas vai podando daqui, podando dalí e querendo censurar, e muitas vezes conseguindo censurar, porque afinal de contas é um governo que não estimula que não muda, que não aplica o máximo de energia possível para que sua população seja grande intelectualmente, pois não esqueçamos que o Brasil não é só São Paulo, Rio e Minas, também temos Cuiabá, Rio Branco, todo sertão nordestino...o Brasil é grande meu caro! Tem muita gente que não sabe nem o nome do presidente, mas pelo menos somos um país que vive de aparências, não é?
Somos o Brasil da Copa! Somos o país em que todos conhecem muito bem o futebol e podemos criticar à vontade, afinal o assunto agora é futebol, talvez muita gente nem se lembre que é ano eleitoral quando começarem os jogos, afinal de contas o Brasil é muito grande, deixe que outro pense em seu lugar, não é mesmo?
O que quero dizer é: Por que vivemos com as extremidades? Por que não buscarmos o equilíbrio? Não quero ser utopista e talvez eu até esteja sendo um pouco, mas por que não podemos ser um Brasil que lê; que ri de suas desgraças, mas reflete sobre elas; que não censura, colabora; que assiste futebol, lê o jornal, procura saber quem é o seu candidato e que participa muito mais, muito mais mesmo do que da roda de malhação do Dunga.
Foi por isso que essas notícias se cruzaram na minha cachola pensante.
E você? Pensa o que sobre isso?