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quinta-feira, 15 de abril de 2010

Maria Eugênia da Glória

Hoje eu estive na casa de Maria Eugênia da Glória, uma menina muito simpática, meio atrapalhadinha, confusa (não é muito certa da cabeça), sofre de cacuete, mas é um doce de menina. Estive lá exatamente porque a menina inventou moda, ela agora tem cacuete de caguetar, virou a maior dedo duro da cidadezinha onde mora, não tem um cidadão que passe ileso, fez coisa boa ela fala, fez coisa ruim ela fala, e fala, e fala mesmo.
No último sábado ela soltou: "-Vi o moço todo troncho, fazê arvoroço com uma pichilinga na caritó".
Pronto! A confusão tava armada, Maria Eugênia não dava explicação de nada e cada um que interpretasse como bem queria. Partindo disso ouviu-se falar que tinha um sujeito entrando no galinheiro do Seu Lima; ouviu-se também que traficantes tavam dando propina pra delegacia; que tinha mendigo fazendo festa pro coisa ruim a noite...isso tudo porque as palavras que ela usa dão margem pra muita coisa, pois significam muita coisa, caritó por exemplo pode ser desde uma moça solteirona até um lugar escuro e pequeno, pichilinga é uma coisa bem pequenininha ou então doença de pele, troncho é pobretão ou desajeitado; e toda vez que alguém perguntava pra ela, a resposta era a mesma: "-Vi o moço todo troncho, fazê arvoroço com uma pichilinga na caritó".
Mas de todos os comentários, o que mais deu pano pra manga foi de um crime. Existia uma solteirona na cidade, a Nereide, ela havia sumido há dias, ninguém sabia dela, por coincidência havia aparecido um forasteiro que andava meio de lado por conta de uma leve corcunda. O boato foi tão forte que o caso foi parar na delegacia e ganhou repercussão nacional. A conclusão que a cidade havia chegado era que o forasteiro corcunda havia "dado um trato" na Nereide solteirona com a sua pichilinga (coisa pequena), ela não aguentou, desfaleceu e ele tratou de sumir com a desfalecida.
Olha o tamanho do problema! O caso foi a tribunal.
- Maria Eugênia da Glória! Testemunha ocular. Assim chamou o promotor.
- O que a senhorita viu naquela fatídica noite?
- Vi o moço todo troncho, fazê arvoroço com uma pichilinga na caritó.
- Por um acaso o moço a quem se refere é aquele moço? E aponta para o sujeito.
- É! Acho que é!
- E o que exatamente ele fazia?
- O maior arvoroço com uma pichilinga na caritó.
- A senhorita pode nos dizer se havia intenção de matar?
- Com certeza, a intenção era essa, qual poderia ser se não essa.
- Pode nos descrever o ato?
- O ato foi meio confuso, ele não tava sabendo usar a pichilinga.
- A senhorita poderia ser mais clara?
- A senhorita poderia usar outras palavras?
- Posso.
- Então por favor, nos descreva a cena usando outras palavras.
- Vi o moço todo torto e atrapalhado coitado, fazendo uma bagunça com uma pinça pequena na gaiola dos caranguejos.
- (com uma feição de horror) O que ele fazia com os caranguejos?
- Tava tentando matar, pra cozinhar.
- E onde estava Dona Nereide?
- Dona Nereide? Não sei.
- Mas ela não estava lá?
- Evidente que não, caso contrário eu teria dito que: Vi o moço todo troncho, e a Dona Nereide fazê arvoroço com uma pichilinga na caritó".
Moral da história: Não tire conclusões precipitadas.
Ah! Querem saber de Dona Nereide? Ela foi correndo pra capital a chamado de uma sobrinha que estava tendo seu primeiro filho, ela foi ajudar e está viva.

Fim.

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