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terça-feira, 27 de abril de 2010

Velho Papel

Até parece a inversão de dois papéis
Até parece que voltamos aos mil réis
A construção de um bordel sob as estrelas
O céu pintado por um tom de azul turquesa
Caiu...
Desmoronou...

Voltamos ao passado, tudo cai como Babel
A nossa história agora é imagem pintada em velho papel.

A vida passa e para a frente agente olha
Mas não é tudo que acontece dessa forma
Algumas vezes o silêncio fecha a porta
Os movimentos vão pra trás e tudo fica sem resposta.

Eu soube que o segredo dessa vida é a ilusão,
Mas se você se ilude pode perder a razão.
Não sei o que é certo, o que é errado, o que é você
Só sei que a nossa vida não tá certa e eu já nem sei mais porque.

Pára! Olha! escuta o relógio.
Grita! Chora! Esperneia e fecha os olhos.
Escuta o eu digo, não discuta seja são
Nosso conto de fadas morreu por falta de imaginação.

Voltamos ao passado, tudo cai como Babel
A nossa história agora é imagem pintada em velho papel.

terça-feira, 20 de abril de 2010

frase solta

"Me rasga o peito, a ilusão que me causa o olhar de desejo ao despertar de teu beijo intenso."

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Maria Eugênia da Glória

Hoje eu estive na casa de Maria Eugênia da Glória, uma menina muito simpática, meio atrapalhadinha, confusa (não é muito certa da cabeça), sofre de cacuete, mas é um doce de menina. Estive lá exatamente porque a menina inventou moda, ela agora tem cacuete de caguetar, virou a maior dedo duro da cidadezinha onde mora, não tem um cidadão que passe ileso, fez coisa boa ela fala, fez coisa ruim ela fala, e fala, e fala mesmo.
No último sábado ela soltou: "-Vi o moço todo troncho, fazê arvoroço com uma pichilinga na caritó".
Pronto! A confusão tava armada, Maria Eugênia não dava explicação de nada e cada um que interpretasse como bem queria. Partindo disso ouviu-se falar que tinha um sujeito entrando no galinheiro do Seu Lima; ouviu-se também que traficantes tavam dando propina pra delegacia; que tinha mendigo fazendo festa pro coisa ruim a noite...isso tudo porque as palavras que ela usa dão margem pra muita coisa, pois significam muita coisa, caritó por exemplo pode ser desde uma moça solteirona até um lugar escuro e pequeno, pichilinga é uma coisa bem pequenininha ou então doença de pele, troncho é pobretão ou desajeitado; e toda vez que alguém perguntava pra ela, a resposta era a mesma: "-Vi o moço todo troncho, fazê arvoroço com uma pichilinga na caritó".
Mas de todos os comentários, o que mais deu pano pra manga foi de um crime. Existia uma solteirona na cidade, a Nereide, ela havia sumido há dias, ninguém sabia dela, por coincidência havia aparecido um forasteiro que andava meio de lado por conta de uma leve corcunda. O boato foi tão forte que o caso foi parar na delegacia e ganhou repercussão nacional. A conclusão que a cidade havia chegado era que o forasteiro corcunda havia "dado um trato" na Nereide solteirona com a sua pichilinga (coisa pequena), ela não aguentou, desfaleceu e ele tratou de sumir com a desfalecida.
Olha o tamanho do problema! O caso foi a tribunal.
- Maria Eugênia da Glória! Testemunha ocular. Assim chamou o promotor.
- O que a senhorita viu naquela fatídica noite?
- Vi o moço todo troncho, fazê arvoroço com uma pichilinga na caritó.
- Por um acaso o moço a quem se refere é aquele moço? E aponta para o sujeito.
- É! Acho que é!
- E o que exatamente ele fazia?
- O maior arvoroço com uma pichilinga na caritó.
- A senhorita pode nos dizer se havia intenção de matar?
- Com certeza, a intenção era essa, qual poderia ser se não essa.
- Pode nos descrever o ato?
- O ato foi meio confuso, ele não tava sabendo usar a pichilinga.
- A senhorita poderia ser mais clara?
- A senhorita poderia usar outras palavras?
- Posso.
- Então por favor, nos descreva a cena usando outras palavras.
- Vi o moço todo torto e atrapalhado coitado, fazendo uma bagunça com uma pinça pequena na gaiola dos caranguejos.
- (com uma feição de horror) O que ele fazia com os caranguejos?
- Tava tentando matar, pra cozinhar.
- E onde estava Dona Nereide?
- Dona Nereide? Não sei.
- Mas ela não estava lá?
- Evidente que não, caso contrário eu teria dito que: Vi o moço todo troncho, e a Dona Nereide fazê arvoroço com uma pichilinga na caritó".
Moral da história: Não tire conclusões precipitadas.
Ah! Querem saber de Dona Nereide? Ela foi correndo pra capital a chamado de uma sobrinha que estava tendo seu primeiro filho, ela foi ajudar e está viva.

Fim.

Workaholic - Ser ou não ser?

Entre um milhão e quinhentas mil coisas a fazer fui diagnosticada essa semana com pneumonia avançada, resultado, repouso absoluto. Por um triz escapei da internação que seria para mim com certeza uma ponte para o caos. Mas ontem eu fui lembrada de uma coisa, do qual já tinha consciência, mas é o tipo de coisa que tendemos a abstrair no dia a dia, sou uma Workaholic, totalmente dominada pelo trabalho. Mas o que pensar sobre esta condição? Existe mesmo um equilíbrio entre dedicação e perfeição?
Vamos começar pelas características:
- Todo workaholic vê seu trabalo como algo importante e significativo e se sente altamente responsável por aquilo que lhe cabe.
- Tem tendências ao perfeccionismo
- Coloca o trabalho sempre em primeiro lugar
- Faz das tripas coração para atender a todos
- Não vê limite no volume de tarefas
etc.....

Essas são algumas características, existem outras tantas que só um viciado no trabalho, sua família e seus amigos conhecem.
Voltando a questão anterior: Existe mesmo um equilíbrio entre dedicação e perfeição?
Sinceramente eu até hoje não encontrei essa resposta. Quando nos dedicamos à algo, colocamos todo nosso potencial criativo, afetivo em tal coisa, agora para entendermos melhor este termo, seremos literais, no dicionário temos dedicação: s.f. Afeto extremo, devoção para com alguém ou alguma coisa.Consagração de um edifício, de um templo.
Agora de seus sinônimos: Abnegação e devoção.

Abnegação: renúncia da própria vontade;desapego do interesse próprio;generosidade com sacrifício;altruísmo, isenção. A abnegação é uma das virtudes de uma alma caridosa.

Devoção: s.f. Piedade, sentimento religioso; dedicação ao culto de Deus e dos santos.Respeito, afeição, dedicação.

Se ser dedicado ao trabalho significa respeitá-lo, admirá-lo, sacrificar-se para realizá-lo, transpor limites físicos e psíquicos. Sou culpada! E como a partir desses sentimentos não querer o objetivo de forma perfeita?
Posso dizer que boa parte da pressão posta no trabalho de um workahlic parte dele mesmo, mas como não ceder as pressões daqueles que esperam que seu trabalho seja de fato perfeito? Como não ceder aos prazos? Como não ceder aos que lhe cobram responsabilidades? Como não ceder ao fato de que é Seu Nome que no fim das contas entra em jogo? E nome é nome, não é? Vale mais do que dinheiro.
Num mundo extremamente competitivo, onde é preciso galgar muito para conseguir algo, é difícil ficar "sossegado" enquanto um milhão de pessoas atrás de você tentam lhe engolir a todo momento. A concorrência é grande e a crítica é cruel.
Já ouvi também que o workaholic é egoísta e ambicioso. Opa! Tudo bem que no fim das contas todo trabalhador quer ser reconhecido pelo seu trabalho, afinal, todos querem seu lugar ao sol. Mas como uma pessoa altamente dedicada pode ser egoísta? Afinal, o resultado do trabalho apenas reflete em seu "criador", o trabalho em si vai sempre para o outro. Um advogado que defende uma causa e ganha recebe os louros por sua vitória, mas a causa ganha é de seu cliente. O médico recebe as graças por ter salvo uma vida, mas quem ganhou a vida foi o paciente. O mecânico recebe o crédito por ter restaurado o carro, mas quem ganha e aproveita o carro é seu dono. O ator recebe o aplauso do público, mas quem ganha é o público que pôde assistir àquela obra e se emocionar, aprender, gerar opinião, analisar, são eles que assistem.
Quem é o egoísta?
E como não ter ambição? Ouve-se muito essa palavra com uma conotação arraigada na malevolência, mas está errado, a ambição é aquilo que propulciona o sujeito a melhorar, a querer superação. Não esqueçamos que o mal está no exagero! Sei que é ambíguo citar tal frase num artigo como este, mas por mais que um workholic seja "exagerado" em trabalhar demais, ele ainda sim não ultrapassa os limites da decência para conseguir algo. Quem faz isso é o super ambicioso por dinheiro, o super ganâncioso por poder; o workaholic tem na sua visão ambiciosa apenas cumprir com êxito seu dever e receber o seu devido crédito por isso, nada mais justo.
E você? O que acha? O workaholic é um produto do mercado ou de si mesmo? Existe o equilíbrio real ? Ou apenas acreditamos nele para não enlouquecermos coletivamente? Pense nisso.